Cidades enfeitadas, lares preparados para as festas, confraternizações aos montões. É natal! E o clima é de festa. O que caracteriza bem esse momento é a presença das luzes nos enfeites e nos espaços públicos. Pois ninguém imagina um natal sem luz. Mas se ao invés de muitas luzes nós comemorássemos com uma certa penumbra, sem enfeites e uma única vela acessa no interior dos lares? A penumbra teria um significado melhor? Por que esta indagação, visto que a luz representa o ministério do filho de Deus, que disse: “eu sou à luz do mundo…”. É que a tradição popular substituiu o verdadeiro significado do natal pela fantasia. O natal do Cristo só tem significado para a alma, se ela reconhecer que vive em trevas e que necessita de sua luz para resplandecer. Talvez, na noite de natal, deveríamos apagar todas as luzes e, sob a luz de um pequeno candeeiro, meditarmos sobre a condição tenebrosa que vivemos em nossos dias.
Como era o ambiente onde Cristo nasceu? Por que não veio ao mundo em um lugar claro e limpo? Por certo, há uma mensagem na cena sombria da estribaria que precisamos decifrar. O interior de uma estrebaria antiga, como na época de Jesus, apresentava características simples e funcionais:
· Paredes de pedra ou barro: construídas com materiais locais.
· Teto baixo: feito de madeira, palha ou barro.
· Porta estreita: controlava a entrada de luz e ar.
· Janelas pequenas ou inexistentes: reduziam a iluminação.
Uma estrebaria era um lugar escuro, com pouca iluminação natural; era frio no inverno, principalmente em regiões montanhosas; úmida, devido à presença dos animais e cheiro forte de esterco e urina. Esta descrição ajuda a entender o contexto histórico e cultural da estrebaria onde Jesus nasceu.
Uma estribaria não pode ser comparada à uma praça de alimentação de um shopping center: falta ventilação, acessibilidade e iluminação. Não é um lugar que nos agradaria conhecer. A escuridão e a penumbra compõem este ambiente que não foi projetado para abrigar gente, se confraternizar ou mesmo repousar. O conforto da hospedaria é sempre a preferência. À noite, junto às manjedouras, os animais se aproximavam para se alimentarem. Um candeeiro tinha a difícil tarefa de manter o ambiente claro e, no mínimo, identificável. Ainda, formas fantasmagóricas desfilavam no chão, teto e paredes laterais. A escuridão do lugar proporcionava um silêncio imposto e uma sensação de quietude, mas sem chegar sufocar o desejo que a noite passasse rápido e o dia amanhecesse logo.
A escuridão foi a realidade do nascimento de Cristo. Aqueles que com ele estavam, tiveram que vencer o medo de andar na sombra da noite. É nesse ambiente inapropriado para recém nascidos que o filho de Deus veio ao mundo. Por certo, há uma mensagem nesse cenário emblemático para nós.
· Para enxergarmos o Cristo é necessário se aproximar dele. Só de perto contemplamos a sua face.
· Para tocarmos no Cristo não basta usar as mãos, é necessário tatear com os dedos da fé.
· Para estarmos ao lado do Cristo é preciso vencer as trevas e os obstáculos que se interpõem, se acomodar ao seu lado e esperar o dia da nossa salvação nascer.
· Para comemorar o nascimento de Cristo basta aceitarmos a estribaria como forma de batismo: humildes e desprendidos das coisas materiais.
O natal tem um convite inverso: deixarmos o conforto que criamos, abandonarmos a falsa claridade dos nossos dias e seguirmos pela escuridão em direção a estribaria, pois, aquele que nela está, é a luz que tanto almejamos!
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