Muitos anos ocupando o púlpito para pregar, chego à conclusão que esse espaço é mesmo especial. Não é mágico, não é poderoso, nem santo, mas é o lugar que nos permitimos ouvir a palavra do Eterno. O que acontece no desenrolar da pregação não dá para avaliar ou dimensionar o que ela é capaz de fazer, impactar e transformar mentes e corações. Quem tem permissão de pregar e usar o espaço pulpitiano constantemente, sem nenhuma proteção ou maquiagem, está sendo submetido às experiências que não se pode explicar, muito menos conceder ou favorecer a qualquer um que queira se beneficiar. É como ter a experiência de Moisés: ver Deus pelas costas e sentir sua bondade nos tocar! O exercício da prédica não é muito tempo, apenas 60 minutos, mas o suficiente para sabermos que de nós mesmos não teríamos condições de dizer o que dizemos e falar o que falamos. Quem foi então?
Turbilhoes de sentimentos vêm sobre o pregador a galope antes, durante e no final da prédica:
⁃ nervosismo, mãos frias e trêmulas, voz embarcada, postura postada, autoridade, coragem, receio, suor, lágrimas, indignação, felicidade, gozo, autoridade e contentamento.
Tudo isso junto, não nesta ordem, e tudo, tudo inexplicável. Pregador e pregação se fundem naquele pequeno espaço da exposição bíblica.
Mesmo sendo divino a prática, a pregação não muda o sujeito que prega! Ele, mesmo sendo usado por Deus para alcançar vidas e distribuir mapas e bússolas, curas e renovações espirituais, a sua condição humana permanece inalterada! Ele não se torna poderoso ou com condições de distribuir poderes e vantagens espirituais, não. Ele permanece homem! Vamos ao púlpito como homens, nos movemos no púlpito como homens e nos retiramos do púlpito como homens.
O Marco Aurélio, Imperador Romano, tinha um criado (servo) que andava atrás dele quando ele ia à Praça Central! E a única função do criado era sussurrar (fazê-lo lembrar) ao ouvido dele quando as pessoas o ovacionavam: "VOCÊ É SÓ UM HOMEM, VOCÊ É SÓ UM HOMEM"!
Este cuidado de Marco Aurélio continha uma informação importantíssima que o mantinha com os pés no chão: “não se iluda, não foi você sozinho que tem trazido glórias a Roma. Este povo não quer você, ele quer os teus feitos, você está sendo aplaudido porque Roma está sendo beneficiada. Portanto, não se iluda, o povo não terá dificuldade em substituir você!”
Esse cuidado Aureliano deveria fazer parte da indumentária dos nossos líderes e pastores atuais: Você é só um homem, você é só um homem!
· Mesmo que Deus me use e milagres me acompanhem, eu continuo sendo homem.
· Mesmo que outros me aplaudam e queiram estar ao meu lado, eu continuo sendo homem.
· Mesmo que o meu ministério cresça e influência a outros, eu continuo sendo homem.
· Mesmo que receba convites especiais e tenha atenção de grandes plateias, eu continuo sendo homem.
· Mesmo que a minha biografia vá para a calçada da fama, eu continuo sendo homem.
Outros podem fazer juízos e atribuir valores ao nosso respeito, mas nós não podemos nos iludir e achar que somos mesmo importantes e insubstituíveis como estão dizendo. Pois sabemos que somos apenas homens.
Nossas quedas e fracassos nós mesmo às construímos, quando acreditamos que somos mesmo líderes especiais. Achar que tudo melhorou, ampliou, frutificou depois que chegamos, é uma ilusão infantil que trará um desfecho trágico e com um custo inapagável. Chamamos isso de prepotência humana. Você é só um homem, você é só um homem!
Tenho um grande amigo* e homem de Deus que disse: “Quando um pastor está iniciando o seu ministério, ele tem medo de ser vaiado, mas o verdadeiro perigo está quando é aplaudido”. Não se iluda com a glória, cresça com os fracassos. Porque a glória não nos pertence!
Reconhecer à natureza humana nos traz três benefícios:
· Continuar dando glórias a Deus para não o ter como opositor.
· Continuar se arrependendo e se convertendo para não perder a salvação.
· Continuar reconhecendo a fragilidade e dependência humana para permanecer nas mãos do Espírito Santo.
Lembre-se: Deus só usa homens, não perca este privilégio!
Sabendo o que somos e o que pensamos, deveríamos ter uma vida simples, pacata, sem profetizar bênçãos, sem arrastar multidões, sem construir grandes totens, sem perpetuar nossos nomes, sem achar que somos nós mesmos quem faz ou edifica. Nossa condição humana não nos permite estarmos em evidência, beirando a glória ou a proeminência. De tempo em tempo deveríamos nos esconder e sermos esquecidos para proteger a nossa natureza humana, tão frágil e dependente da misericórdia de Deus.
O que determina, quanto tempo Deus vai nos usar e se agradar de nós, depende da condição humilde em ouvir e aceitar o seu Espírito a nos dizer: Você é só um homem, você é só um homem!
*Vicente Mariano
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