Escuta de Qualidade

“Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tiago 1:19)

Estar atento aos muitos ruídos que cercam a comunidade de Cristo e saber decifrar tais mensagens, eleva a sua importância de socorrista, intermediadora e representante da causa divina. Uma comunidade genuinamente cristã, não somente sabe o que fala, como também sabe ouvir às muitas vozes que vem da sociedade. Há gruídos e sussurros, pedidos de socorro que precisam ser identificados e atendidos o mais rápido possível, pois, esperar é uma decisão que a igreja não pode contar como estratégia de trabalho. Não só de pão vive o homem, porque também de pão vive o homem! Uma ovelha só fica muda na presença dos seus tosquiadores, mas não quando tem fome. Dai-lhes vós de comer!

Não compartilhar o que temos, denigre a nossa imagem de representantes do Reino de Deus na terra dos viventes. Nossa vida templária não deve nos afastar e, nem mesmo, nos proteger da miséria alheia, caos ou tragédias. Se isso acontecer, fará de nós comunidade não digna. É preciso parar e escutar com atenção, com o ouvido do coração, o outro e sua dor, suas fraquezas e mazelas.

Meu irmão, quando a dor do outro já não lhe afeta, quem precisa de salvação é você!

O desafeto e a ausência da solidariedade estão descartados e inaceitáveis, como forma de resposta da igreja, aos muitos pedidos de socorro que vem de fora. A igreja não foi criada para julgar as razões das dores, miserias e sofrimentos alheios, não foi posta para ser juiz do próximo, mas, simplesmente, atender quem tem sede, fome e frio. E Isto não se espera, não se posterga e não se protela. O melhor ministério que a igreja deve desenvolver é a capacidade de ouvir o outro enquanto necessitado. Não há para a igreja um ente de transferência que faça o que ela foi preparada para fazer, foi condicionada para fazer e foi comissionada para fazer. Não há quem possa substituir a função da igreja. Não fazer, não ajudar, não socorrer está descartado como opção da comunidade cristã.

Não é no barulho dos cultos que a igreja consegue ouvir as vozes, mas no silêncio de sua consciência. Saber ouvir com qualidade faz com que a sua mensagem seja de qualidade, e aceita como resposta do céu para os homens. Saber ouvir, inclusive, melhora até mesmo os seus relacionamentos e atividades internas de sua convivência religiosa. Para lembrar quem somos, nãos deveríamos nos vestir de adoradores, mas de mendigos. Socorrer o próximo tem mais importância para Deus do que adorá-lo. Só é possível amar o próximo ouvindo-o, pois, quem ouve, aprende amar. Tenho percebido, que a nossa geração, tem facilidade em expulsar demônios, mas não tem nenhuma intimidade com o milagre da multiplicação de pães e peixes. Que coisa! É muito bom ouvir anjos cantando, melhor ainda é conseguir ouvir, alto e bom som, homens chorando.

“O que as pessoas mais desejam é alguém que as escutem de maneira calma e tranquila, em silêncio, sem dar conselhos. A gente ama, não a pessoa que fala bonito, é a que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa, e é na não escuta que ele termina”. (Ruben Alves)

Amar não deve ser somente um sentimento, mas uma ação assertiva em direção ao outro, cuja a nascente, é um silêncio provocador e incomodador que afeta os nossos corações, mudando nosso jeito de pensar e pregar, enquanto veículos do evangelho silencioso de Cristo entre os homens. Para pregar é necessário saber ouvir, e para ouvir, é necessário fazer silêncio, e é no silêncio que nasce a verdadeira mensagem, muitas vezes, sem palavras. Só ama de verdade quem investe na escuta do outro. E como ajudarão se não há quem escuta? E como escutarão se não há quem faça silêncio? É com a boca fechada e as mãos abertas que nascem as mensagens mais impactantes, ao ponto, de não sabermos discerne se foi o homem ou próprio Deus, que veio ao nosso encontro. Foi na cruz do calvário, em silêncio, que Cristo pregou a sua impactante mensagem de salvação! Desobstrua os ouvidos e ouça o clamar dos necessitados. Quem não sabe escutar o próximo, receberá como recompensa, a fatalidade de não ser ouvido pelo próprio Deus.